Haicão
Dormindo num cinzeiro
Nadando sem meia
E ardendo feito o diabo
Fazia azia
Com brasa no conhaque
E desfilava
Como um bode na coleira
Ai de mim pequena!
O céu afrouxou
Feito um nó de forca
Meia-entrada
Meia, meia, meia
Culpa
Haicão II
Uivando numa grota
Voando sem pelo
E caindo feito um arranjo
Indo rindo
Com piadas na coleira
Ar de anjo
Enterrando borboletas no útero
Ai de mim pequena!
O acordo acordou
A corda, a corda, acorda
Viu meu nó vil?
Viu meu nó,
Viu?!
Haicão III
Gorjeando submerso na lava
Emergindo numa cápsula transcendental
E pairando em ponto morto
Passando assando
Com brasas no distintivo
Maquiabéblico
Entranhas para metamorfoses em tranhas
Ai de mim pequena!
A ribalta pegou fogo
E não posso correr
Sem antes
Queimar
Meu figurino
Anestésico
Após descobrir
Que os mosquitos têm dentes
Todas as noites,
Quando esses bastardos decidem aparecer
Eu tenho uma certeza, meu bem
De tanto sugarem você
Agora eles precisam de mim
Do meu sangue alcoólico
Para aliviarem suas dores
E é só por isso
Que não os mato
Apenas mastigo
Um que outro
Para velar
Seu sabor
Ramon Carlos é coautor do livro estrAbismo (Editora Viseu, 2018). Escreve no site: www.estrAbismo.net. Tem materiais diversos espalhados em revistas
como: Mallarmargens, Aboio, LiteraturaBr, Acrobata, Philos, Amaité Poesias &
Cia, InComunidade, LiteraLivre, Subversa, Ruído Manifesto, Literatura &
Fechadura, Jornal Plástico Bolha, A Bacana e Cidadão Cultura.